Amor
que vence todas as barreiras!
Seca, fome, abandono dos governos e domínio dos coronéis.
Era este o cenário no final do século XIX para o povo sertanejo. Não havia
estradas, nem comunicação e muito menos água. Estado de abandono total.
Mas uma notícia conseguia chegar até os rincões do
sertão: um milagre acontecera num pequeno vilarejo no Sul do Ceará. A hóstia se
transformara em sangue na boca de uma beata quando ministrada por um padre
conselheiro. A esperança renascia!
Alguém poderia dar um rumo à vida deste povo sofrido. “Vamos ao Juazeiro do Pe.
Cícero!” E assim começaram as primeiras romarias.
Sem nenhuma perspectiva em sua terra natal, o romeiro
veio e aqui ficou. Juazeiro logo cresceu muito rápido. Os poderosos da época
começavam a se incomodar. Seria Juazeiro uma nova Canudos? O caráter sereno e
conciliador do Pe. Cícero desmentia todas as acusações, mas o preconceito
continuou.
Pe. Cícero foi forçado a calar sobre o chamado “Milagre
de Juazeiro”. Obedeceu sem contestar. As romarias também foram criticadas e
desaconselhadas, mas já neste quesito, o amor do romeiro pelos ensinamentos de
seu mentor e pela Virgem Mãe das Dores falou mais alto. E um amor verdadeiro
rompe qualquer barreira!
O tempo passou, mas eles continuaram a vir. Em grande
número, e mais, e mais. Atenderam ao pedido do Pe. Cícero: “Moradores e
romeiros, após minha morte não se retirem daqui, nem abandonem esta terra!” A
romaria se transformou num grande fenômeno. A persistência do amor conseguiu
modificar conceitos. O que antes era fanatismo, hoje simboliza a força de fé de
uma grande nação. Como o nobre padre afirmou, “a romaria de Juazeiro foi um
chamado da Mãe de Deus. Aqui tem sido um refúgio dos náufragos da vida”.
A capacidade agregadora do Pe. Cícero aumenta mesmo após
tantos anos de sua morte. E faz com que os romeiros não precisem de pacotes
turísticos e nem de campanhas publicitárias. Também não fazem questão de ônibus
luxuosos. Fazem questão, isto sim, de estar na terra de seu padrinho, tanto
para pedir quanto para agradecer bênçãos alcançadas. Cada um com seu rosário na
mão e com a Oração de Nossa Senhora das Dores na ponta da língua; tudo
ensinamento dele!
E é com amor pelo Juazeiro de seu padrinho que eles
cantam, percorrem todos os locais considerados sagrados, como a Basílica e a
Capela do Socorro com seu túmulo no altar, e choram emocionados na missa de
despedida.
Obrigado irmãos romeiros por tanto carinho. Sem vocês não
seríamos juazeirenses por completo! Afinal, estamos todos unidos pelo mesmo amor
cultivado pelo nosso padrinho. Viva a Mãe das Dores! Viva os romeiros do Pe.
Cícero de Juazeiro!
Dr.
Paulo Leonardo Celestino
Cirurgião-dentista
Informações históricas retiradas dos livros "A Marcha da Insurreição" de Paulo Machado e "Padre Cícero: A Sabedoria do Conselheiro do Sertão" de Daniel Walker.