Abaixo artigo escrito pelo prof. Daniel Walker em seu site Portal de Juazeiro. O autor autorizou a sua publicação no Cidade Juá:
"Neste domingo, como acontece
desde 1934, a
cada dia 20, a
Igreja Católica Apostólica Romana celebra missa em sufrágio da alma do
Padre
Cícero. Ela reverencia o padre que ela mesma expulsou do seu quadro, há
mais de
100 anos, sob o pretexto de desobediência e heresia. E isto constitui
verdadeiro paradoxo, pois ele é o padre que lota as igrejas de fiéis e
enche os
cofres delas de dinheiro. Um bispo rancoroso suspendeu as ordens do
Padre
Cícero e isto foi depois confirmado pelo Vaticano, tudo motivado pela
crença
dele num fato acontecido pela primeira vez em 1º de março de 1889, no
então
povoado de Juazeiro e que passou à
história com o nome de milagres de Juazeiro. O fato consistiu na
transformação
da hóstia consagrada em sangue, na boca da beata Maria de Araújo, afora
outras
manifestações igualmente estranhas, e que desde então divide o clero
brasileiro, com muitos padres e bispos acreditando tratar-se de milagre
eucarístico e outros, acreditando tratar-se de embuste. Mesmo suspenso
das
ordens oficialmente desde 1894, ele aceitou
resignadamente todas as punições que lhe foram impostas, suportou pesado
calvário,
mas nunca deixou de amar a sua Igreja,
assistir às missas regularmente e propagar a religião católica. Depois
de morto, sua memória continua
atraindo fiéis à igreja e alimentando as romarias que deixam os cofres
das
igrejas repletos de dinheiro sob a forma de esmolas. E é justamente aí
que
reside um paradoxo para o qual a Igreja deveria dar uma explicação
plausível.
Ou seja, condenou Padre Cícero, mas aceita o dinheiro que vem por
interveniência dele. Se ele foi banido da Igreja oficialmente, por que
então
não deixá-lo no ostracismo? Por que homenageá-lo, aprovar suas romarias,
ovacionar
seu nome nos sermões, cantar hinos em sua honra se ele foi suspenso de
ordens? Agindo
assim, a Igreja dá uma demonstração de que de fato ele já está
reabilitado. Então,
por que não oficializar uma situação que de fato já existe? É pedir
muito?
Agora, aceitá-lo como padre útil à Igreja somente para atrair fiéis e
dinheiro,
é inconcebível estando ele oficialmente irregular, como de fato está. Um
processo pedindo a sua reabilitação está em Roma há quase sete anos,
porém até
agora entravado no manto sagrado da burocracia do Vaticano que desde
então só tem
dado como resposta o silêncio. Por um dever de justiça, é preciso louvar
a
iniciativa do bispo Dom Fernando Panico que foi a Roma, acompanhado de
grande
comitiva de juazeirenses, para entregar pessoalmente e oficialmente ao
Papa, o
pedido de revogação da pena de suspensão, a qual trará como conseqüência
a
reabilitação do Padre Cícero. Para subsidiar o pedido, o bispo nomeou
uma
competente equipe composta por padres, psicólogos, teólogos,
historiadores,
gente do mais alto gabarito, a qual, depois de exaustivo estudo produziu
um
substancioso relatório entregue junto com o pedido, tudo feito conforme
solicitação do Vaticano. Mas até agora nada de positivo
aconteceu. Enquanto isto, outros processos mais complicados, pois pedem
beatificação e canonização, correm mais acelerados, contrariando a
resposta
dada pelos padres de que “as coisas de Roma são devagar”. Na verdade,
pelo
visto, devagar mesmo, só a causa do Padre Cícero, pois os processos das
jovens
Benigna (de Santana do Cariri) e de Odetinha (do Rio de Janeiro), para
citar
somente estes que são recentes, estão bastante avançados. Então, já está
na
hora de Juazeiro do Norte protestar. E
este jornal abre o bico:"
"Chega de tanto esperar.
QUEREMOS A
REABILITAÇÃO DO PADRE CICERO JÁ!"