Em época de mais uma
grandiosa Romaria de Finados, toda a população de Juazeiro do Norte, assim como
seus visitantes, vive a expectativa de notícias favoráveis em relação ao
processo de reabilitação do Pe. Cícero Romão Batista.
Mesmo com a aclamação de toda a nação romeira, este
processo avança lentamente, e infelizmente a memória de nosso padrinho continua
sofrendo as injustas punições do início do século XX.
Creio que os fundamentos teóricos, aliados à distância
física a qual nos separa de Roma, são os grandes obstáculos para a sonhada
reabilitação. Ou seja, nas salas fechadas do Vaticano, fatores como a
participação do Pe. Cícero na política, e a localização dos acontecimentos do
“milagre da hóstia” (o sertão do Ceará no século XIX), influenciam
decisivamente no conceito de autoridades que não vivenciam a nossa atmosfera de
fé e devoção.
Apenas quem vê e sente a romaria de Juazeiro consegue
entender este espetáculo de fé, tão simples e verdadeiro. Nestes dias, por
exemplo, tive a oportunidade de presenciar a chegada de um precário caminhão
pau d’arara repleto de romeiros. Em meio ao desconforto, a um calor insuportável,
e a um trânsito totalmente congestionado, eles cantavam benditos com altivez,
numa demonstração de êxtase e penitência. O que será mais divino do que este
sentimento que brota do coração das pessoas e oferece forças para enfrentar
todas as diversidades?
Para as autoridades do Vaticano, falta a vivência da
prática para decifrar a intricada teoria na História do Pe. Cícero. Esta
aproximação com o popular é justamente a grande meta do Papa Francisco, que em
pouco tempo de Pontificado vem revolucionando conceitos e ideias.
Pelo seu comportamento na Jornada Mundial da Juventude no
Rio de Janeiro, sempre rodeado de fiéis, fico a imaginar uma pitoresca cena: Já
pensou o Papa disfarçado de romeiro e sentindo na pele toda a ação divina nas
romarias? Claro que isto nunca acontecerá, mas seu estilo de aproximação com o
povo nos resgata a esperança de novos rumos para o reconhecimento da atuação do
grande conselheiro dos sertões, sempre fiel aos ensinamentos de sua Igreja.
Paulo Leonardo Celestino